Wednesday, November 15, 2017

Uma poesia de Beatriz Vignoli

                                                                                            
LA CAÍDA

Beatriz Vignoli

Si te dicen que caí
es que caí.
Verticalmente.
Y con horizontales resultados.
Soy, del ángulo recto
solamente los lados.
Ignoro el arte monumental del sesgo,
esa torsión ornamental del héroe
que hace que su caer se luzca como un salto.
Ese rizo del mártir que, ascendiendo
se sale de la víctima
y su propio tormento sobrevuela
no es mi especialidad. Yo, cuando caigo,
caigo.
No hay parábola
ni aire, ni fuerza de sustentación.
Un resbalón: espero. Al suelo llego
por la ruta más breve.
Un alud, una piedra,
una viga a la que han dinamitado.
No hay astucias del cuerpo en mi descenso.
Se sobrevive: el fondo
del abismo es más blando
para quien no vuela, sólo cae.
Si te dicen que caí,
no vengas
a enseñarme aerodinámica revisionista.
No me cuentes de los que cayeron venciendo.
No vengas a decirme
que no crees que haya sido un accidente.
En lo único que creo es en el accidente.
Lo único que sabe hacer el universo
es derrumbarse sin ningún motivo,
es desmoronarse porque sí.
  
A QUEDA

Se te dizem que caí
é que caí.
Verticalmente.
E com horizontais resultados.
Sou, de ângulo reto
tão somente os lados.
Ignoro a arte monumental do viés,
essa torção ornamental do herói
que faz do seu cair que se veja como um salto.
Esse riso de mártir que, ascendendo
de vítima de seu próprio tormento sobrevoar
não é a minha especialidade. Eu, quando caio,
caio.
Não existe parábola
nem ar, nem força de sustentação.
Um empurrão: espero. Ao solo chego
pela rota mais breve.
Uma avalanche, uma pedra, uma viga
a quem hão dinamitado.
Não há astúcia do corpo em minha descida.
Se sobrevive: o fundo
do abismo é mais brando
para quem não voa, só cai.
Se te dizem que cai
não venha
me ensinar aerodinâmica revisionista.
Não me contes dos que caíram vencendo.
Não me venhas a dizer-me
que não crê que haja sido um acidente.
O único que creio é que foi um acidente.
A única coisa que sabe fazer o universo
é derrubar-se sem nenhum motivo,
é desmoronar-se porque sim.


Ilustração: Beatriz Vignoli. 

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