Sunday, July 31, 2016

VIDA

   
Na vida ponho adjetivo: vida feia.
Para satisfazer os gostos
De quem não pensa assim escrevo,
apesar de mim:
vida linda.
Custa-me, porém, muito
embelezar a vida
E, para a turma do nem sim,
                              nem não,
Condescendente
coloco somente
vida indiferente.
Quando olha-me, sem jeito,
Alguém que põe um reparo
em aceitar a neutralidade
que há na indiferença,
de forma que,
por desencargo,
por aceitar mudanças,
ponho certo:
Vida dança
E também caio no embalo.


Do livro "Apocalypse", Editora Zanzalás, 1992).

É amor


Estranha mistura que me invade
Uma paixão que já não tem limites
Um amor que só me faz covarde
E uma ilusão que, espero, evites.

Luto contra minhas próprias fibras.
O teu corpo tão no meu presente
Até sente, quando tu não vibras,
E se vibras, mesmo se não sentes.

Tento matar esta paixão maluca
Que me dando frio mata de calor,
Mas, dentro do peito o desejo caduca
Porque não é paixão, é mesmo amor.

(Do livro "Apocalypse", Editora Zanzalás, 1992). Ilustração: www.provasdeamor.com






Friday, July 29, 2016

Outra poesia de Dorothy Parker


Autobiography
Dorothy Parker
Oh, both my shoes are shiny new,
And pristine is my hat;
My dress is 1922....
My life is all like that.
Autobiografia
Oh!, ambos os meus sapatos são brilhantemente novos,
E intocado é o meu chapéu;
Meu vestido é de 1922....

Minha vida é toda assim. 

Ilustração: www.lilianpacce.com.br

Thursday, July 28, 2016

Uma poesia de Karla Sánchez Barreto

La verdad es que...                                               Karla Sánchez Barreto

La verdad es que nunca proyectó entre sus planes siete entre los dos. Compartir con cuatro sus desgracias, y menos todavía que uno fuera cualquier cosa, menos eso...

Un árbol que crece en el centro de la sala, una se tropieza y ante el cielo entristecido, los tonos de ocre —difusas transparencias marginales— auguran otra perspectiva de su vida.

II
En la mañana de pino barnizada, la pequeña tabla sostenida en la pared por dos cadenas, era el perfecto escritorio para una máquina de escribir verde.

Subió entonces a la azotea y leyó. Era el trino de un pájaro frente al rugir de volcanes. Bramaban furiosos y escupían fuego. Eran miles de pájaros muertos por la erupción. Al día siguiente desfilaron esperanzas frente a una multitud sollamada.

III
Sentada sobre la grama ennegrecida por la arena, la brújula marcaba diversos horizontes, no importaba. Un soldadito de ojos celestes acariciaba la palma de su mano, luego se sumergía al agua fresca de sus ojos, cuando lo más tierno de esa pasión era no conocerla.
  
A verdade é que....

A verdade é que nunca se projetou sete vezes seus planos entre os dois. Compartilhar com quatro infortúnios, e menos, todavia, que um foi qualquer coisa menos isso ...

Uma árvore que cresce no meio da sala, um tropeça e diante do céu entristecido, os tons de ocre -difusas transparências marginais- auguram outra perspectiva de sua vida.

II
Na manhã de pinho envernizado, a pequena tábua pendurada na parede por duas cadeias, era a mesa perfeita para uma máquina de escrever verde.

Subiu, então, para o telhado e leu. Era o trinado de um pássaro contra o rugido dos vulcões. Bradavam furiosos e cuspiram fogo. Milhares de aves foram mortas pela erupção. No dia seguinte desfilaram as esperanças diante de uma multidão chamuscada.

III
Sentado na grama enegrecida pela areia, a bússola marcava diversos horizontes diferentes, não importava. Um soldadinho de olhos azuis acariciava a palma da sua mão, logo, se submetia à água fresca de seus olhos, quando o mais terno dessa paixão era não conhecê-la.


Ilustração: br.pinterest.com

Wednesday, July 27, 2016

Outra poesia de Blanca Castellón

                                                                                               
Vivió en la mirada de otro...

Blanca Castellón

Vivió en la mirada de otro
sin pagar renta

Se trasladó con sus metáforas sin anunciarse

Para contemplarse:
quiso intercambiar su imagen
con la que vio el extraño

Supo que era ilegal
que tenía exprisioneras entre los dedos de la boca

Y en verdad no era justo
alguien lo había visto primero
y su imagen le pertenecía.

Viveu no olhar de outro

Viveu no olhar de outro
sem pagar aluguel

Se mudou com suas metáforas sem anunciar-se
Para contemplar-se:
quis trocar sua imagem
com a que viu no estranho

Supôs que era ilegal
que tinha ex-prisioneiras entre os dedos da boca

E, na verdade, não era justo
alguém o havia visto primeiro
e sua imagem lhe pertencia.

Ilustração: brisabruta.tumblr.com


Outra poesia de Daniel Dago


ER PORCO E ER SOMARO

Daniel Dago

Una matina un povero Somaro
Ner vede un Porco amico annà ar macello,
Sbottò in un pianto e disse: – Addio, fratello,
Nun ce vedremo più nun c’è riparo!
– Bisogna esse’ filosofo, bisogna:
– Je disse er Porco – via nun fa’ lo scemo,
Chè forse un giorno ce ritroveremo
In quarche mortatella de Bologna!
  
O PORCO E O BURRO

Uma manhã, um pobre jumento,
ao ver um porco amigo, ao matadouro, em direção
prorrompeu em pranto e disse: – Adeus, irmão,
não nos veremos mais, não tem medicamento!
– Se recomponha, seja filósofo, se recomponha
–lhe disse o porco – não nos apressemos.
Talvez um dia nos encontraremos
em qualquer mortadela de Bolonha!

Ilustração: www.petitgastro.com.br

Tuesday, July 26, 2016

Uma poesia de Blanca Castellón




Guía práctica para las horas

Blanca Castellón

Deberías dejar huellas reconocibles en las orillas
y usar adecuadamente los sacos rotos
con ese noble propósito

Tendrías —sí— el cuidado de no pisar la luz
podrías también por razones obvias manchar páginas
con la savia de los árboles

Y empujar las puertas con la punta de la lengua
es la forma correcta para conservar el sabor de la madera
en estado de reposo.

Guia prático para as horas

Deverias deixar pegadas reconhecíveis nas margens
e usar adequadamente os sacos rasgados
com este nobre propósito
Terias-sim-o cuidado de não pisar na luz
poderias também, por razões obvias, manchar págins
com a seiva das árvores

E empurrar as portas com a ponta da língua
é a forma correta para conservar o sabor da madeira
em estado de repouso.


Ilustração: www.oanagrama.com

Monday, July 25, 2016

Uma poesia de Susan King Saunders

Little Girl Dancing                          
Susan King Saunders

There was no movie made
about the little girl
age three,
who the doctor said
would die in a year
who I last saw
alive at age five
in a wheelchair
dancing,
dying,
singing,
smiling,
waving goodbye

A menininha dançando

Não há nenhum filme feito
sobre a menininha
de três anos de idade,
que o médico disse
que iria morrer em um ano
que vi pela última vez
viva há cinco anos
numa cadeira de rodas
dançando,
morrendo,
cantando,
sorrindo,
acenando ao dizer adeus

Uma poesia de Mariangela Gualatieri




8.

Mariangela Gualatieri 

Forse si muore oggi – senza morire. 
Si spegne il fuoco al centro.
Sanguinano le bandiere. Generale è la resa.
Ciò che nasce ora crescerà in prigionia. 
Reggete ancora porte invisibili dell’alleanza
bastioni di sereno. Puntellate il bene
che si sfalda in briciole in cartoni.
Il popolo è disperso. In seno ad ognuno cresce
il debole recinto della paura – la bestia spaventosa.
A chi chiedere aiuto? E’ desolato deserto il panorama.
Si faccia avanti chi sa fare il pane.
Si faccia avanti chi sa crescere il grano.
Cominciamo da qui.

8.

Talvez se morra hoje-sem morrer.
Se apaga o fogo no centro.
Sangra-se a bandeira. Geral é a rendição.
O que nascer agora crescerá na prisão.
Segura ainda a porta invisível da aliança
bastião do sereno. Escorem o bem
que se esfarela em pedacinhos no papelão.
O povo é disperso. No peito de cada um cresce
a débil cerca do medo- a besta assustadora.
A quem pedir ajuda? É desolador, deserto o panorama.
Avante quem sabe fazer o pão.
Avante quem sabe fazer crescer o grão.
Começamos aqui. 

Ilustração: pt.dreamstime.com

Saturday, July 23, 2016

HAI-KAI À LA CABREIRO



“Mulher grande e melancia grande a gente tem mesmo é que repartir com os amigos” (José Maria Cabreiro).

Ela se chamava melancia
Grande, farta, tão melosa
Que até sobrou água da fatia. 

Friday, July 22, 2016

Um poema de Kakinomoto

Si no tengo a nadie que exprima mi traje...

Kakinomoto no Hitomaro

Si no tengo a nadie que exprima mi traje,
¿por qué mi amada me manda la lluvia?
¿Es como mensaje?

Se não tenho ninguém para lavar minha roupa
Se não tenho ninguém para lavar minha roupa,
Por que minha amada me envia a chuva?
É uma mensagem?

Ilustração: bruxinhaalegre.blogspot.com

(Tradução em espanhol de Antonio Cabezas García).

Outro poema de Marosa di Giorgio

De súbito, estalló la guerra...                                           

Marosa di Giorgio

De súbito, estalló la guerra. Se abrió como una bomba de azúcar
arriba de las calas. Primero, creíamos que era juego;
después, vimos que la cosa era siniestra. El aire quedó
ligeramente envenenado. Se desprendían los murciélagos
desde sus escondites, sus cuevas ocultas caían a los platos,
como rosas, como ratones que volvieran del infinito,
todavía, con las alas.
Por protegerlos de algún modo, enumerábamos los seres y las cosas:
"Las lechugas, los reptiles comestibles, las tacitas...".
Pero, ya los arados se habían vuelto aviones; cada uno, tenía
calavera y tenía alas, y ronroneaba cerca de las nubes, al alcance
de la manos pasaron los batallones al galope, al paso. Se prolongó
la aurora quieta, y al mediodía, el sol se partió; uno fue hacia el este,
el otro hacia el oeste. Como si el abuelo y la abuela se divorciaran.
De esto ya hace mucho, aquella vez, cuando estalló la guerra,
arriba de las calas.

De súbito, estalou a guerra....

De súbito, estalou a guerra. Abriu-se como uma bomba de açúcar
por cima das enseadas. Primeiro, pensamos que era um jogo;
depois, vimos que a coisa era sinistra. O ar ficou
ligeiramente envenenado. Se desprendiam os morcegos
dos seus esconderijos, suas cavernas ocultas caiam nos pratos,
como rosas, como ratos  que voltavam do infinito,
ainda, com as asas.
Para protegê-los de alguma forma, enumeravámos os seres e as coisas:
"As alfaces, os répteis comestíveis, as taças ...".
Porém, como os arados tinham se tornado aviões; cada um tinha
crânio e tinha asas, e ronronando perto das nuvens, ao alcance
das mãos passaram os batalhões ao galope, ao passo. Se prolongou
o amanhecer quieto, e ao meio-dia, o sol se quebrou; um foi para o leste,
o outro para o oeste. Como se o avô e avó se divorciassem.
Isto já faz muito tempo, aquela vez, quando estalou a guerra,
por cima das enseadas.


Ilustração: porterrassefarad.blogspot.com

Thursday, July 21, 2016

PARA ME CONSCIENTIZAR




Charles Chaplin dizia                                                 que dar um chute na bunda
tira toda a dignidade  de qualquer cidadão.
Ah! Meu irmão
ando com o astral tão baixo
que me sinto mais cheio de lixo que capacho
e, se me chutarem a bunda,
sou capaz de rir
e pedir 
para me chamarem de saci
só pra ter certeza que é real 
este meu viver tão imoral!

POEMINHA SOBRE OS EFLÚVIOS DO BAR LOBO



Um dia, em novembro de 2013,
no Bar Lobo esteve
O poetinha Silvio Persivo,
o maior da Amazônia,
em tamanho naturalmente,
e bebeu, solenemente,
Tanat Catamayo, Merlot Trapiche
e quase chora,
tendo imensa dó
de quem não podia estar lá
e apreciar a parrilha, o salmão, os pastéis, o chouriço
que, em Montevidéu, se faz.
Pareceu um feitiço,
mas, a atmosfera, a música, o prazer
o induz a perceber
que não há, nem pode haver,
lugar melhor
para se comer,
beber,
viver! 

Monday, July 18, 2016

CARPE DIEM

Cada dia, cada noite                   as mesmas tristezas podem ser de outros,
mas, só nós não percebemos
que as malhas da vida tecem tudo numa só peça,
de forma que toda dor é nossa,
toda dor pesa sobre toda humanidade.
Toda dor
é apenas um fio do tecido que nos faz humanos,
no entanto, cada ponto tem sua própria ressonância,
cada parte do tecido sua importância,
seus nós, suas pregas, seus segredos,
de modo que a vida é feita dos enredos
que ninguém sabe explicar.
Vivemos sem saber viver;
vivemos sem saber amar
a preciosa transitoriedade
que nos lega o instante, esta joia de verdade
impossível de se capturar.

Ilustração: www.aliexpress.com

Um poema de Guo Moruo


La ciudad celeste

Guo Moruo

Las luces de la calle, a lo lejos, están encendidas, como incontables estrellas.
Las estrellas del cielo se vislumbran, como las incontables luces de la calle.
Pienso en el espacio indistinto; seguro que hay una ciudad hermosa.
En la ciudad hay bienes, seguro que son tesoros que el mundo no posee.
Echa un vistazo: la pálida Vía Láctea seguro que no es tan grande.
Pienso en los Niu Lang y Zhi Nú del río; seguro que podrán montar encima de la Vaca y ponerse
          en ruta.
Pienso en ellos; en este momento, seguro que están paseando sin hacer nada por las calles del
          cielo.
No lo creas. Por favor, mira el meteoro. El susto que te has dado es porque son ellos
Los que llevan las linternas mientras caminan.

A CIDADE CELESTE

As luzes da rua, ao longe, estão acesas, como incontáveis
estrelas.
As estrelas do céu se vislumbram como incontáveis luzes da rua.
Penso no espaço indistinto; seguro de que há uma cidade formosa.
Na cidade há bens, seguro que são tesouros que o mundo não possui.
Rápido olho: a pálida Via Láctea, seguro que não é tão grande.
Penso nos Niu Lang e Zhi Nú do rio; seguro que poderão montar-se em cima da vaca e pôr-se na rota.
Penso neles; neste momento, seguro que estãp passeando sem fazer nada pelas ruas do céu.
Não o creia. Por favor, olha o meteoro. O susto que te há dado é porque
são eles.
Os que levam as lanternas enquanto caminham.

(Tradução em espanhol de Blas Piñero Martínez).

Ilustração: opdes.blogspot.com

Saturday, July 16, 2016

Uma poesia de Julián Marchena Valle-Riestra




Vuelo supremo

Julián Marchena Valle-Riestra

Quiero vivir la vida aventurera
De los errantes pájaros marinos;
No tener, para ir a otra ribera,
La prosaica visión de los caminos.
Poder volar cuando la tarde muera
Entre fugaces lampos ambarinos
Y oponer a los raudos torbellinos
El ala fuerte y la mirada fiera.
Huir de todo lo que sea humano;
Embriagarme de azul... Ser soberano
De dos inmensidades: mar y cielo,
Y cuando sienta el corazón cansado
Morir sobre un peñón abandonado
Con las alas abiertas para el vuelo.

VOO SUPREMO
Quero viver a vida aventureira
dos errantes pássaros marinhos;
não ter, para ir a outra ribeira,
a prosaica visão dos caminhos.
Poder voltar quando a tarde morra
entre fugazes raios ambarinos
e opor aos velozes torvelinhos
a asa forte e o olhar de fera.
Fugir de tudo que seja humano;
embriagar-me de azul...ser soberano
de duas imensidões: o mar e o céu.
e quando sentir o coração cansado
morrer sobre um penhasco abandonado
com as asas abertas para voar, feito um véu!


Ilustração: olhares.sapo.pt

SONETO DO AMOR OCULTO


Todo este amor escondido e calado                      
Pode ser triste, mas, não amargurado,
Pois, de nada se arrepende ou reclama
Resignado sobrevive porque ama,

E, bem sabe, ainda mais, ser muito amado.
Contente assim até suporta delicado
Os longos dias que se perdem no infinito
Sem o gozo do amor e sem um grito.

Exalta muito mais o ter a certeza
Que tanto amor fortalece a natureza
De seu viver tão frágil e tão humano

Até sonha dias que, talvez, jamais virão
Consciente de que a vida sem a ilusão
É um esforço tão inútil quanto insano.

Ilustração: www.tumblr.com

Uma poesia de Alberto Szpunberg


Merkell, el matemático, desmonta las matemáticas

Alberto Szpunberg

Un hombre, el más solo de los solos, ¿es sólo el más solo de los solos? ¿es sólo un hombre solo?
en la boca del hambriento, por ejemplo, un día + otro día no son dos días sino una eternidad,
un árbol + otro árbol tampoco son dos ni mucho menos un bosque, aunque bajo la lluvia, sobretodo en otoño, cale hasta los huesos la tristeza,
una lluvia + los charcos entre las hojas + el camino de tierra que lleva hacia otros pueblos no son tres sino el mismo otoño del que hablaba,
las cuatro estaciones, a grosso modo, son siembra y cosecha,
cinco son los libros pero son uno y caben en una sola mano cuando ésta se abre como un libro,
la raíz cuadrada de un roble padece por cada hoja arrancada y se abraza a la tierra
desesperadamente hasta engendrar nuevos robles donde ya se oyen cantar los pájaros que se va siempre por las ramas,
no es lo mismo restar horas que la última hora o dividir de un golpe los pocos dientes que aún sonríen, dividir para gobernar no es dividir ni gobernar cuando amar es crecer y multiplicarse,
¿qué recta es la distancia más corta entre un pájaro y un suspiro, entre una vocal y una
          consonante, entre mañana y lo que vendrá?
Nunca alcanzan los dedos para contar ni un solo segundo de sufrimiento,
pero hasta el mismo infinito siente envidia de un corazón que ríe.


MERKELL, O MATEMÁTICO, DESMONTA ÀS MATEMÁTICAS

Um homem, o mais só dos sós, é só mais só dos sós? Ou é só um homem sozinho?
na boca do faminto, por exemplo, um dia + outro dia não são dois dias, mas, sim uma
eternidade
uma árvore + outra árvores tampouco são duas nem muito menos uma bosque, ainda que sob a chuva, sobretudo em outono, cale até os ossos de tristeza,
uma chuva + os pântanos entre as folhas + o caminho da terra que leva até outros
povos não são três senão o mesmo outono do qual falava,
as quatro estações, a grosso modo, são a semeadura e a colheita,
cinco são os livros, porém, são um e cabem em uma só mão quando esta se abre como
um livro,
a raiz quadrada de um carvalho padece por cada folha arrancada e se abraça à terra
desesperadamente até engendrar novos carvalhos onde se ouvem cantar os pássaros
que brincam sempre sobre os galhos,
não é o mesmo restar horas que a última hora ou dividir de um golpe os poucos dentes
que ainda sorriem, dividir para governar  não é dividir nem governar quando amar é crescer e multiplicar-se
que reta é a distância mais curta entre um pássaro e um suspiro, entre uma vogal e uma consoante, entre a manhã e o que virá:
Nunca alcançam os dedos para contar nem um só segundo de sofrimento,
porém, até mesmo o infinito sente inveja de um coração que ri.


Ilustração: vanderleyac.blogspot.com