Tuesday, May 31, 2016

Cinco poemas de Jorge Curinao

Jorge Curinao                                                                                          

En tu honor
enciendo velitas de alquitrán.

Del tiempo que vivimos
solo quedan estas sombras

Em tua honra
acendo velinhas de alcatrão.

Do tempo que vivemos
só restam estas sombras.      

***

Afuera llueve
es una metáfora
de nunca acabar.

Lá fora chove
é uma metáfora
para nunca acabar.

***
Soy un mudo
que habla con desconocidos.

¿Y si el alma fuera este insomnio?

Sou um mudo
Que fala com desconhecidos.

E se a alma for esta insônia?

X

Aquel que no encontró consuelo a la orilla del mar y no
reclama fe ni esperanza, sabe que la carne es triste. Que no
hay que hablar con extraños.

X
Aquele que não encontrou consolo na beira do mar e não
reclama fé nem esperança, sabe que a carne é triste. Que não
tem que falar com estranhos.

XIII

Se aprende, en el pueblito, a caminar despacio. Se aprende
a hablar con las estrellas, con los muertos. Escucha, cierra los

ojos. Es la piedra que puse entre tus manos.

XIII 

Se aprende, com o povinho, a caminhar devagar. Se aprende
a falar com as estrelas, com os mortos. Escuta, fecha os

olhos. É a pedra que pus entre as tuas mãos.


Ilustração: plus.google.com

Monday, May 30, 2016

Uma poesia de Rafael Acevedo

Freud revisited                            
Rafael Acevedo

El trabajo del sueño no es el cálculo
(el agua tiene otras cifras y el sueño es un líquido
que unta las primeras horas de la vigilia).
Uno aprende con las noches
lo que el ojo cerrado consume con su boquita parpadeante.
El saludo de la mañana en el sueño
es un lobo que lame su lenta luna de lona.
El trabajo del sueño no es el jeroglífico.
Uno aprende con las noches
lo que el ojo cerrado produce con sus globos movedizos.
La conversación del día en el sueño
es un guerrero lanzando mariposas amoladas
escudándose en un gran caparazón de tortuga.
El trabajo del sueño no es el pensar.
Uno aprende con las noches
lo que el ojo cerrado conoce con los espejos de uno mismo.
La mujer vestida de ceniza brillante, poro a poro,
dialoga con el jinete de caballo de algodón
y uno feliz escucha
y la invita a una taza de café, con los ojos cerrados
como un buen malabarista que sólo despierta para soñar.

FREUD REVISITADO

O trabalho do sono não é um cálculo
(a água tem outras cifras e o sonho é um líquido
que unta as primeiras horas de vigília).
Um aprende com as noites
o que o olho fechado consome com sua boca gaguejante.
A saudação da manhã no sonho
é um lobo que lambe sua lenta lua de lona.
O trabalho do sono não é o hieróglifo.
Um aprende com as noites
o que o olho fechado produz com seus globos movediços.
A conversação do dia no sonho
é um guerreiro lançando borboletas amoladas
escudando-se num grande casco de tartaruga.
O trabalho do sono não é pensar.
Um aprende com as noites
o que o olho fechado conhece os espelhos dele mesmo.
A mulher vestida em cinza brilhante, poro a poro,
dialoga com o jóquei do cavalo de algodão
e um escuta feliz
e a convida para uma xicara de café, com os olhos fechados
como um bom malabarista que só desperta para sonhar.

Ilustração: veredaspsicologicas.blogspot.com


Sunday, May 29, 2016

UMA ODE QUE JAMAIS ESTARÁ À ALTURA DE DICK FOSBURY




Para quem nasceu no céu azul de Portland,
E sonhava em saltar mais alto,
Richard 'Dick' Douglas Fosbury,
Para se tornar o rei do salto,
Desenvolveu uma forma de saltar diferente.
Até foi tido como preguiçoso
Comparado a um peixe e alvo de piada,
Mas, nada o afastou da meta determinada
Criando, contra a corrente,
Um método de saltar mais eficiente,
Uma verdadeira convulsão aérea.
Nos jogos olímpicos foi primeiro
E, com sua medalha de ouro,
Tornou sua forma a mais popular
E a que dá maior chance de ganhar.
Por isto mesmo esta criatura
É um inovador do salto em altura.

Ilustração: www.athletesquarterly.com790

Uma poesia de Mallarmé

 
Tombeau d’Edgar Poe

Stéphane Mallarmé

Tel qu’em Lui-même enfin l’éternité le change,
Le Poète suscite avec um glaive nu
Son siècle épouvanté de n’avoir pás connu
Que la mort triomphait dans cette voix étrange!

Eux, comme un vil sursaut d’hydre oyant jadis l’ange
Donner uns sens plus pur aux mots de la tribu
Proclamèrent très haut le sortilège bu
Dans le flot sans honneur de quelque noir mélange.

Du sol et de la nue hostiles, ô grief!
Si notre idée avec ne sculpte um barelief
Dont la tombe de Poe éblouissante s’orne,

Calme bloc ici-bas Chu d’um désastre obscur
Que ce granit du moins montre à jamais sa borne
Aux noirs vols du Blasphème épars dans le futur.

O túmulo de Edgar Poe

Tal qual em si mesmo, enfim, a eternidade o toca,
O poeta suscita com um escudo erguido
Seu século apavorado por não ter ouvido
Que a morte triunfava em sua voz exótica.

Eles, num vil sobressalto, como de uma hidra impura
Deram o mais puro sentido ao verbo da tribo
Proclamando muito alto ao sortilégio bebido
Na enchente sem honra de qualquer negra mistura.

Do chão e das nuvens hostis, oh! Amargura!
Se nossa ideia não gera o relevo de uma escultura
Com o qual se orne, de Poe, a tumba deslumbrante,

Calmo bloco caído de algum desastre escuro,
Que este granito, ao menos, torne intermitente
os voos que a blasfêmia esparsa no futuro.


Ilustração: jornalpatropi.blogspot.com

Saturday, May 28, 2016

ATÉ A MODA ME INCOMODA



O sono não vem.                                                        
Dormir, em vão, tento.
Durmo de cansado
e me vejo acordado:
o sonho me perturba.
Não me contento.
Produtos, experiências, eventos,
músicas, notícias, o silêncio
tudo me incomoda.
Ainda mais reclamo
do tempo que se vai
da estranha ambivalência
da vida e da morte
do que considero pouca sorte.
Da tua ausência,
da qual sou culpado,
e de tudo me parecer muito errado.
Todo corpo tem prazo de validade sei..
e o meu dá sinais de ansiedade, 
de desejos de novidades, 
de procurar rotas de fugas,
como se fosse possível criar outras fases. 
Entre milhares de outras frases
que esqueci,
que esquecerei,
relembro Freud que disse
“somos feitos de carne,
Mas, temos de viver
como se fôssemos de ferro”.
Se na citação não erro,
nas imagens, na aliteração, no dizer,
na musicalidade posso escorregar.
Não sou, como Alexander McQueen,
um estilista, nem dito moda
ou faço de esqueletos conteúdos.
Sou poeta, melhor dizendo fui poeta.
E, hoje, faço versos toscos, quase mudos,
talvez, para tentar provar
que não devem me enterrar,
quando nem sei para que vivo,
e para reclamar de tudo
acho motivo. 

Foto: Tim Walker

Poemazinha de reflexão infantil


NEM SEI

Eu não sei quem te amará, meu amor,
quando eu te deixar,
se a flor do amor secar,
se eu te deixar algum dia.
Nem sei se, num lapso de memória,
não amanheces, uma manhã qualquer,
sem te lembrares de mim sequer.
Nem sei se serei capaz de amar;
se tu serás capaz de amar
quando a solidão pesar
nos dias que virão.
Se ainda estarei vivo, ou não,
ou incapaz de lembrar de uma canção.
Nada sei do amanhã:
se há um barco, um navegar, um porto
um lugar onde chegar
sem me sentir absorto
e, se for possível, das tormentas do viver descansar.

Ilustração: br.pinterest.com


Friday, May 27, 2016

Uma poesia de Pablo Antonio Cuadra

EL NACIMIENTO DEL SOL                                                                  Pablo Antonio Cuadra

He inventado mundos nuevos. He soñado
noches construidas con sustancias inefables.
He fabricado astros radiantes, estrellas sutiles
en la proximidad de unos ojos entrecerrados.
Nunca sin embargo,
repetiré aquel primer día cuando nuestros padres
salieron con sus tribus de la húmeda selva
y miraron al oriente. Escucharon el rugido
del jaguar. El canto de los pájaros. Y vieron
levantarse un hombre cuya faz ardía.
Un mancebo de faz resplandeciente,
cuyas miradas luminosas secaban los pantanos.
Un joven alto y encendido cuyo rostro ardía.
Cuya faz iluminaba el mundo.

O nascimento do sol 

Tenho inventado mundos novos. Tenho sonhado
com noites construídas de substâncias inefáveis.
Fabriquei estrelas radiantes, estrelas sutis
nas proximidades de uns olhos entrecerrados.
Nunca, sem embargo,
repetirei aquele primeiro dia quando nossos pais
saíram com suas tribos da úmida floresta
e olharam para o oriente. Escutaram o rugido
jaguar. O canto dos pássaros. E viram
levantar-se um homem cujo face ardia.
Um jovem de rosto resplandecente,
cujos olhares luminosos secavam os pântanos.
Um jovem alto e incendiado cujo rosto ardia.
Cujo face iluminava o mundo

Ilustração: entretenimento.r7.com

Thursday, May 26, 2016

Uma poesia de Julieta Dobles

SILOGISMOS DE AUSENCIA                              
Julieta Dobles

Si tu silencio me muerde la alegría,
escribo.

Si no hay música que llene tus ausencias,
escribo.

Si añoro la quemadura de tus manos
sobre mis playas húmedas,
escribo.

Si cuando te nombro me recorre la espalda
una fila de besos emigrantes,
escribo.

Si en tus labios borrados adivino
la única fuente que me mata de sed,
escribo.

Si el vacío de tu voz transforma mis silencios
en tambores ausentes y enervantes,
escribo.

Si toda mi piel grita de soledad y miedo
para ahuyentar la soledad invasora,
escribo.

¡Cuánta poesía entretejen
tu ausencia y mi dolor!


SILOGISMO DA AUSÊNCIA

Se o teu silêncio me morde alegria,
escrevo.

Se não há música que preencha as tuas ausências,
escrevo.

Se lamento a queimadura de tuas mãos
sobre minhas praias úmidas,
escrevo.

Se quando te nomeio me caminha pelas costas
uma fileira de beijos migrantes,
escrevo.

Se em teus lábios apagados adivinho
a única fonte que me mata de sede,
escrevo.

Se o vazio de tua voz transforma meu silêncio
em tambores ausentes e enervantes,
escrevo.

Se toda a minha pele grita de solidão e medo
para afugentar a solidão invasora,
escrevo.

Quanta poesia entrelaçam
tua ausência e a minha dor!


Wednesday, May 25, 2016

De novo Marilou F.

Marilou F.                                                                                         
Ahí casi en el punto final
hay copas, cielo e inmensidad.
Afuera la noche aulla su silencio,
adentro caigo en mis agujeros.
Un año más, un tiempo atrás
y cientos de espejos por quebrar.
Entonces la vuelta al secreto
y mil razones para bebernos el mar.
Comienzo.
En el punto inicial veo tu cuerpo,
entonces hay vuelo, mareo y eternidad.


(Amo-te)


Aí quase no ponto final
Há copos, céu e imensidão.
Lá fora a noite uiva seu silêncio,
dentro caio nos meus buracos.
Um ano mais, um tempo atrás
e centenas de espelhos por quebrar.
Então a volta ao segredo
e mil razões para bebermos o mar.
Começo.
No ponto inicial vejo o teu corpo,
Então,  não há voo, tonturas e eternidade.


(Amo-te)


Ilustração:  esteticaarte2009.blogspot.com

Tuesday, May 24, 2016

Mais uma poesia de Walter de la Mare

The Song of Shadows

Walter de la Mare

Sweep thy faint strings, Musician,
With thy long lean hand;
Downward the starry tapers burn,
Sinks soft the waning sand;
The old hound whimpers couched in sleep,
The embers smoulder low;
Across the walls the shadows
Come, and go.

Sweep softly thy strings, Musician,
The minutes mount to hours;
Frost on the windless casement weaves
A labyrinth of flowers;
Ghosts linger in the darkening air,
Hearken at the open door;
Music hath called them, dreaming,
Home once more."

CANÇÃO DAS SOMBRAS

Toca as delicadas cordas, Músico,
Com tua mão magra e longa;
Abaixo as velas estreladas queimam,
Desmancham-se suavemente na areia;
O velho sabugueiro em sonhos se queixa,
As brasas, em fogo baixo, ardem;
Através dos muros as sombras chegam,
Vem e vão. 

Toca ternamente as cordas, Músico,
Com os minutos monta as horas;
A geada, sem vento, nos batentes  
Tece um labirinto de flores;
Fantasmas permanecem no ar que escurece,
Ouvindo pela porta aberta;
A música os chama, os convida a sonhar,
Uma vez mais, a regressar ao lugar.


Ilustração: bardodassombras.blogspot.com

Monday, May 23, 2016

Uma poesia de Fabian Dobles

LA ESPERA                           

Fabian Dobles

Te hemos estado esperando.
Yo, y el agua y el reloj.
Yo, la fruta y el silencio.
El agua para que encuentres tu forma pura de arpegio.
El reloj para que mires tu corazón hecho tiempo.
La fruta, madura ya, porque vayas al encuentro de tu sabor, que esta de su corazón pendiendo.
Y el silencio te ha esperado, porque yo soy el silencio.

A ESPERA

Temos estado esperando.
Eu, e a água e o relógio.
Eu, a fruta e o silêncio.
A água para que encontres tua forma pura de harpejo.
O relógio para que veja teu coração feito o tempo.
A fruta, madura já, porque vais ao encontro de teu sabor, que está de seu coração pendendo.
E o silêncio tem te esperado, porque eu sou o silêncio.


Ilustração: www.snpcultura.org

Sunday, May 22, 2016

Uma poesia de Carlos Francisco Monge

 
PARA QUE EL TIEMPO SE VAYA...

Carlos Francisco Monge

Ni la más lenta música,
ni el paisaje más vano o fugitivo,
ni la justa bengala de la juventud
batiendo puertas.
Nada lo detendrá.
Es como un sueño de caballos en que desenfrenado
Arrebatado nos prende y atropella,
que nos huye y nos cerca.
Las figuras, los trastos,
la mano torpe del jugador,
¿dónde habrán de quedar sino entre las palabras,
conjuradas, oscuras,
habitadas apenas por los días felices?
Duendes y palitroques: eso son las palabras.
Y ni ellas mismas, que besan como moscas,
que aúllan sin pasión contra el silencio,
y murmuran y saben que morir a tiempo
es mejor que la nada.
No es la música lenta,
Ni la gracias que deja la belleza en las manos;
es el cobijo del miedo,
la amenaza velada que es espejo retiene
certero y nos traspasa.
No hay música ni juegos ni palabras,
sólo el duende del miedo, el palitroque
para que el tiempo se vaya.
  
PARA QUE O TEMPO SE VÁ

Nem a mais lenta música,
nem a paisagem mais vã e fugitiva,
nem a justa bengala da juventude
batendo portas.
nada o deterá.
É como um sonho de cavalos que desenfreados
arrebatado nos prende e atropela,
que nos foge e nos cerca.   
As figuras, os trastes,
a mão torpe do jogador,
onde haveriam de ficar senão entre as palavras
conjuradas, obscuras,
habitadas apenas pelos dias felizes?
Duendes e varetas: isso são as palavras.
E nelas mesmas, que beijam como moscas,
que uivam sem paixão contra o silêncio,
e murmuram, e sabem que morrer a tempo
é melhor que o nada.
Não é a música lenta,
nem a graça que deixa a beleza nas mãos;
é o abrigo do medo,
a ameaça velada que o espelho retém,
certeiro e nos trespassa.
Não há musica, nem jogos, nem palavras,
só o duende do medo, a vareta
para que o tempo se vá.


Ilustração: mariahhmaia.blogspot.com