Sunday, January 31, 2016

Vou me embora pra Calama

Se, para gozar como é preciso,  
É necessário ir pra Calama
Largo o Boteco da Fama,
Mando o shopping se afastar
Pego o barco e vou pra lá...
Vou me esbaldar em Calama.
Tédio sei que não terei
Mesmo sem internet ou tevê
Tenho tanto o que ver
Em cima ou embaixo da cama.
Hei de gozar pra valer
Indo morar em Calama.

Ilustração: www.rondonianoar.com.br


Poemas mal comportados

Infelicidade conjugal                    
O safado nem na morte
Me deu sorte:
apareceram dívidas, mulheres e filhos
e nem o seguro consegui receber.
Pensão o miserável não deixou.
Amigos? Só os de bar
que ainda tiveram o desplante
de, no velório, me cantar.
Eu, que não bebia,
aprendi a me embriagar
para esquecer da triste vida
que só com a morte dele consegui superar.
Tem certos casamentos que só dão azar! 

Ilustração: Banco de Dados Zero Hora

A poesia de Manuel del Palacio

                                                                                                                              
Amor oculto

Manuel del Palacio

Ya de mi amor la confesión sincera
Oyeron tus calladas celosías,
Y fue testigo de las ansias mías
La luna, de los tristes compañera.

Tu nombre dice el ave placentera
A quien visito yo todos los días,
Y alegran mis soñadas alegrías
El valle, el monte, la comarca entera.

Sólo tú mi secreto no conoces,
Por más que el alma con latido ardiente,
Sin yo quererlo, te lo diga a voces;

Y acaso has de ignorarlo eternamente,
Como las ondas de la mar veloces
La ofrenda ignoran que les da la fuente.

Amor oculto

Já de meu amor a confissão sincera
Ouviram tuas caladas persianas,
E foi testemunha das minhas ânsias,
A lua, dos tristes, a companheira.

Teu nome disse à ave prazenteira
A que me visitava todos os dias,
E alegrava minhas sonhadas alegrias
O vale, o monte, a região inteira.

Só tu o meu segredo não conheces,
Por mais que a alma em pulsações ardentes ,
Sem eu querer lhe diga em altas vozes;

E acaso hás de ignorá-la eternamente,
Como as ondas do mar velozes
Da oferenda ignoram qual a fonte.


Ilustração: www.imgmlp.com

OH! DERROTA!

Eu nele tanto acreditei                       Que iludida
Quando me deu pista
De que poderia ser um artista
Até investi num violão
Certo de que ele, para mim, faria,
Pelo menos, um samba-canção.
Que desilusão!
O sem talento
Não me tocou nem uma nota
E o violão virou vaso,
Sem melodia ou flor,
Fazendo pouco caso
De minha ingenuidade
De crer num artista sem valor.
Oh! Que horror! 

Saturday, January 30, 2016

De volta Gustavo A. Bécquer

 
Rimas                                                                                 
Gustavo A. Bécquer

Del salón en el ángulo oscuro.
De su dueño tal vez olvidada.
Silenciosa y cubierta de polvo
Veíase el arpa.

¡Cuánta nota dormía en sus cuerdas,
Como el pájaro duerme en la rama,
Esperando la mano de nieve
Que sabe arrancarla!

¡Ay! pensé; ¡cuántas veces el genio
Así duerme en el fondo del alma.
Y una voz, como Lázaro, espera
Que le diga: «¡Levántate y anda!»

Rimas


Do salão no ângulo escuro.
De seu dono, talvez, esquecida.
Silenciosa e coberta de pó
Via-se a harpa.

Quanta nota dormia em suas cordas,
Como o pássaro dorme sobre o ramo,
Esperando a mão de neve
Que sabe arrancá-la!

Aí! Pense; quantas vezes o gênio
Assim dorme no fundo da alma
E uma voz, como Lázaro, espera
Que lhe diga: “Levanta-te e anda!”


Ilustração: rostodotroll.blogspot.com

Uma poesia de Amparo Jimenez





Entrega

Amparo Jimenez

Una ola rompe violenta
en la playa de nuestros cuerpos
nos inunda un rugido de mar
     contra las rocas.
Al retirarse,
     lenta,
nos deja una brisa erótica
que nos envuelve
uniéndonos
     para siempre
en un beso.

Entrega

Uma onda rompe violenta
na praia de nossos corpos
nos inunda um rugido de mar
contra as rochas.
Ao retirar-se
 lenta,
nos deixa uma brisa erótica
que nos envolve
unindo-nos
para sempre

em um beijo.

Mais um poema de Fina García Marruz



UNA DULCE NEVADA ESTÁ CAYENDO

Fina García Marruz

Una dulce nevada está cayendo
detrás de cada cosa, cada amante,
una dulce nevada comprendiendo
lo que la vida tiene de distante.

Un monólogo lento de diamante
calla detrás de lo que voy diciendo,
un actor su papel mal repitiendo
sin fin, en soledad gesticulante.

UMA DOCE NEVADA ESTÁ CAINDO

Uma doce nevada está caindo
detrás de cada coisa, cada amante,
uma doce nevada compreendendo
o que a vida tem de distante.

Um monologo lento de diamante
cala detrás do que vou dizendo,
um ator em seu papel mau repetindo
sem fim, em uma solidão gesticulante.


Ilustração: revistacrescer.globo.com

Estrofes de Gaspar Núnez de Arce

Estrofas                                                                     
Gaspar Núñez de Arce

XX

No eres la vaga aparición que sigo
con hondo afán desde mi edad primera,
sin alcanzarla nunca... Mas ¿qué digo?
No eres la libertad, disfraces fuera,
¡licencia desgreñada, vil ramera
del motín, te conozco y te maldigo!

XXI

¡Ah! No es extraño que sin luz ni guía,
los humanos instintos se desborden
con el rugido del volcán que estalla,
y en medio del tumulto y la anarquía,
como corcel indómito el desorden
no respete ni látigo ni valla.


XXII

¿Quién podrá detenerle en su carrera?
¿Quién templar los impulsos de la fiera
y loca multitud enardecida,
que principia a dudar y ya no espera
hallar en otra luminosa esfera,
bálsamo a los dolores de esta vida?

Estrofes

XX

Não eras a vaga aparição que sigo
com profundo afã desde de  minha primeira idade,
Sem alcança-la nunca... Mas, o que digo?
Não és a liberdade, disfarçes fora,
Licença desgrenhada, vil rameira
Do motim, te conheço e te maldigo!


XXI

Ah! Não é estranho que sem luz nem guia,
Os humanos instintos se desbordem
com o rugido de vulcão que estala,
e, em meio à turbulência e anarquia,
como cavalo rebelde em disparada
não respeitam nem o chicote ou cerca.


XXII

Quem poderá detê-lo em sua carreira?
Quem domará os impulsos da fera
e louca multidão enfurecida,
que principa a duvidar e não espera
encontrar em uma outra esfera luminosa,
o bálsamo para a dores desta vida?


Ilustração: www.emresumo.com.br

Friday, January 29, 2016

Três poemínimos de Sergio Navarrete Vásquez

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Sergio Navarrete Vázquez

Me sucede
      con las mujeres
lo que
     a Pepsi con la
     música,
sólo que al revés:

tenemos
       poco en común
  y
mucho
            de
                  oficial

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Me sucede
      com as mulheres
o que
   a Pepsi com a
     música,
só que ao contrário:
temos
   pouco em comum
e
muito
          de
                oficial.


Refraín

Del
dicho
    al lecho
hay
poco o
mucho trecho,
según
sea
el
     caso


Refrão

Do
dito
   ao feito
há pouco ou
muito trecho,
segundo
seja
o
   caso.

Hipódromo nocturno

Más vale
caballo sin jinete
que
jinete
            sin
                        cabeza


Hipódromo noturno

Mais vale
um cavalo sem jóquei
que
um jóquei
           sem

                   cabeça

Ilustração: vimeo.com

Mais um poema de Octavio Paz

                                                         
Todos los días descubro…
Octavio Paz
Según un poema de Fernando Pessoa

Todos los días descubro
La espantosa realidad de las cosas:
Cada cosa es lo que es.
Que difícil es decir esto y decir
Cuánto me alegra y como me basta.
Para ser completo existir es suficiente.

He escrito muchos poemas.
Claro, he de escribir otros más.
Cada poema mío dice lo mismo,
Cada poema mío es diferente,
Cada cosa es una manera distinta de decir lo mismo.

A veces miro una piedra.
No pienso que ella siente,
No me empeño en llamarla hermana.
Me gusta por ser piedra,
Me gusta porque no siente,
Me gusta porque no tiene parentesco conmigo.

Otras veces oigo pasar el viento:
Vale la pena haber nacido
Sólo por oír pasar el viento.

No sé qué pensarán los otros al leer esto
Creo que ha de ser bueno porque lo pienso sin esfuerzo;
Lo pienso sin pensar que otros me oyen pensar,
Lo pienso sin pensamientos,
Lo digo como lo dicen mis palabras.

Una vez me llamaron poeta materialista.
Y yo me sorprendí: nunca había pensado
Que pudiesen darme este o aquel nombre.
Ni siquiera soy poeta: veo.
Si vale lo que escribo, no es valer mío.
El valer está ahí, en mis versos.
Todo esto es absolutamente independiente de mi voluntad.

Todos os dias descubro

Segundo um poema de Fernando Pessoa

A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto
O quanto me alegra e o quanto me basta.
Para ser completo existir é suficiente.

Já escrevi muitos poemas.
Claro que hei de escrever outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo.,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Ás vezes, miro uma pedra.
Não penso que ela sente,
Não me empenho em chamá-la de irmã.
Me agrada por ser pedra,
Me agrada porque não sente,
Me agrada por não ter nenhum parentesco comigo.

Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena ter nascido
Só para ouvir o vento passar.

Não sei o que pensarão os outros ao ler isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que os outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamentos,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram de poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo,  não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.


Ilustração: heloisaconversandocomaspalavras2.blogspot.com

Thursday, January 28, 2016

Um soneto de Ramón de Campoamor

                                                                                                 


Soneto

Ramón de Campoamor

De amor tentado un penitente un día
Con nieve un busto de mujer formaba,
Y el cuerpo al busto con furor juntaba,
Templando el fuego que en su pecho ardía.

Cuanto más con el busto el cuerpo unía,
Mas la nieve con fuego se mezclaba,
Y de aquel santo el corazón se helaba,
Y el busto de mujer se deshacía.

En tus luchas, ¡oh amor de quien reniego!
Siempre se une el invierno y el estío,
Y si uno ama sin fe, quiere otro ciego.

Así te pasa a ti, corazón mío,
Que uniendo ella su nieve con tu fuego,
Por matar de calor, mueres de frío.

Soneto

Do amor tentado um penitente um dia
Com a neve um busto de mulher formava,
E ao corpo o busto com furor juntava
Temperando o fogo que em seu peito ardia.

Quanto mais com o busto o corpo unia,
Mais a neve com o fogo se mesclava,
E daquele santo o coração gelava,
E o busto de mulher se desfazia.

Em tuas lutas, oh amor a quem renego!
Sempre se une o inverno e o estio,
E se um ama sem fé, quer o outro cego.

Assim acontece a ti, coração meu,
Que unindo ela  sua neve com teu fogo,
Por matar o calor, de frio já morreu.


Outra poesia de Juan Gelman

Oración                                                                            
Juan Gelman

Habítame, penétrame.
Sea tu sangre una como mi sangre.
Tu boca entre a mi boca.
Tu corazón agrande el mío hasta estallar.
Desgárrame.
Caigas entera en mis entrañas.
Anden tus manos en mis manos.
Tus pies caminen en mis pies, tus pies.
Árdeme, árdeme.
Cólmeme tu dulzura.
Báñeme tu saliva el paladar.
Estés en mí como está la madera en el palito.
Que ya no puedo así, con esta sed
Quemándome.

Con esta sed quemándome.

La soledad, sus cuervos, sus perros, sus pedazos.
           
Oração

Habita-me, penetra-me.
Seja o teu sangue um só com meu sangue.
Que tua boca entre na minha boca.
Teu coração aumente o meu até estalar.
Desgarra-me.
Caias inteira em minhas entranhas.
Andem tuas mãos nas minhas mãos.
Teus pés caminhem nos meus pés, teus pés.
Queima-me, queima-me.

Banhe-me com tua saliva o paladar.
Transborda-me com a tua doçura.
Estejas em mim como está a madeira no palito.
Que já não posso assim, com esta sede
Queimando-me.

Com esta sede queimando-me.

A solidão, seus corvos, seus cães, seus pedaços.



Monday, January 18, 2016

Uma poesia de Alexandra Lerma

JAULA                                                                   


Alexandra Lerma

Un pájaro oscuro se me ha metido al pecho
Es ciego
Torpe
Y cristalino
No conoce las ventanas de mi cuerpo
se estrella con recuerdos y sonidos
su aleteo me está dejando sorda
me está dejando muda
y por mis pequeños ojos se va filtrando el aire, la saliva, la sangre emplumada
quizás me he convertido en jaula
en espejo que engaña
en árbol sin retorno
tal vez el pájaro no existe
y es solo la tristeza
tal vez yo soy el pájaro
y el cuerpo es el tuyo.

Jaula

Um pássaro escuro se meteu no meu peito
É cego
Torpe
E cristalino
Não conhece as ventanias de meu corpo
Se despedaça com lembranças e sons
Sua palpitação está me deixando surda
Me está deixando muda
E, por meus olhos pequenos, se vão filtrando o ar, a saliva, o sangue emplumado,
Quem sabe, me converti numa jaula
Em espelho que engana
Em árvore sem retorno
Talvez num pássaro que não existe
E és só a tristeza
Talvez eu seja o pássaro
E o corpo é o teu. 

Ilustração: www.tattooers.net