Monday, October 06, 2014

Josefina Plá


Déjame ser

Josefina Plá

Deja llevarme mi última aventura.
Déjame ser mi propio testimonio,
Y dar fe de mi propia
Desmemoria.
Déjame diseñar mi último rostro,
Apretar en mi oído los pasos de la lluvia
Borrándome el adiós definitivo.
Déjame naufragar asida
A un paisaje, una nube,
Al vuelo humilde de un gorrión,
A un brote renaciente,
O siquiera al relámpago
Que abra en dos mi último cielo.
Sujétame los brazos.
Engrilla mis tobillos,
Empareda mis párpados.
Pero tatuada una flor en la pupila,
Crucificada un alba debajo de la frente,
Acurrucado un beso en la raíz de la lengua,
Déjame ser mi propio testimonio.

Deixa-me ser

Deixa levar-me minha última aventura.
Deixa-me ser meu próprio testemunho,
E atestar minha própria
Desmemoria.
Deixa-me desenhar o meu último rosto,
Apertar em meus ouvidos os passos da chuva  
Apagando-me no deus definitivo.

Deixa-me naufragar apreendidos
A paisagem, uma nuvem,
Ao vôo humilde de um pardal,
A um surto de ressurgimento
Ou até mesmo de um relâmpago
Que abra em doiso meu últimos céu.

Segura-me os braços.
Algema meus tornozelos,
Empareda minhas pálpebras.
Porém, tatuada uma flor na pupila,
Crucificado a alva sob a testa,
Aprisionado um beijo na raiz da língua,
Deixa-me ser meu próprio testemunho.


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