Wednesday, January 30, 2013

Abelardo Linares



OFICIO DE LA COSTUMBRE

Abelardo Linares

Del amor a las palabras queda sólo costumbre.
Se hace rito el misterio y un dios inútil
silencioso visita el asolado paisaje de nuestros sueños.
En espejos ardiendo miramos nuestro rostro
y la mano sostiene una flor que es de hielo y ceniza.
Si en ese atardecer canta un pájaro ciego,
¿qué nos devolverá su canto si aguarda ya la noche
para arrancar de nuestros ojos la luz última del mundo?

O ofício de hábito

O amor das palavras costuma ser só um costume.
se faz rito o mistério e um deus inútil
silencioso visita a desolada paisagem de nossos sonhos.
Nos espelhos ardendo vemos nosso rosto
e a mão segurando uma flor que é gelo e cinzas.
Se neste entardecer canta um pássaro cego,
O que nos devolverá o seu canto se  a noite aguarda
para arrancar de nossos olhos a última luz do mundo?

Gustavo Adolfo Bécquer



IV
Gustavo Adolfo Bécquer

¡Los suspiros son aire y van al aire!
¡Las lágrimas son agua y van al mar!
Dime, mujer: cuando el amor se olvida,
¿sabes tú a dónde va?

IV

Suspiros são  ar e vão pelo ar!
As lágrimas são água e vão para o mar!
Diga-me, mulher, quando o amor se esquece,
Sabes tu para onde vai?

George Pellicer



MI ALMA GEMELA

George Pellicer

Los años pasan y yo sigo en tu busca,
error tras error, complican tu encuentro,
los años pasan y yo sigo solo,
aunque sé que al fin llegará el día de nuestro reencuentro.

Almas gêmeas

Os anos passam e eu sigo em tua busca,
erro através de erro, complicam o teu encontro,
os anos passam e eu sigo só,
ainda que, ao final, chegará o dia do nosso reencontro. 

Tuesday, January 29, 2013

Vida, minha vida



Sentido

Se, como dizem, ultrapassada
a velocidade da luz
é possível, ao homem,
conviver com uma cópia de si mesmo,
então, para que existam
este mundo e estas formas ilimitadas
todas devem ser multiplicadas
por réplicas infinitas também.
Tal presunção nos leva a pensar
que o mundo é mais irreal do que parece
e que tantos são os deuses
                                   quanto as preces.
Que, diante de tanta grandeza,
demonstrada pela vasto firmamento,
nós, improváveis frutos do acaso,
pobres e infiéis depositários da vida,
somos a maravilhosa insignificância
         da insignificância
              que  guarda o sentimento do mundo,
                                  ainda que provisoriamente.
A vida não é uma maravilha?
 

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).


Um dia o trabalho estará terminado...




A linha da morte

A morte, possibilidade permanente da vida,
indiferente contempla o por do sol.
A ceifadora das vidas, só ela, sabe
que até o sol terá seu dia.
E pensa, a morte pensa,
muito além dos mortais,
que, quando nada mais morrer,
ela mesma não terá razão de ser
e até a própria morte morrerá
por não ter mais quem matar. 


(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).

Sunday, January 27, 2013

Poema da passagem




Se das coisas findas e que se findaram
ficar alguma lição será a do passar.
Só o passar é infinito como o verbo
e, no entanto, a rosa e a poesia se conservam
e se conservam o tempo, o espaço, o ar, a luz.
A música, talvez, há de acabar
ou toque e não se faça ouvir
(sobreviverá algo estranho como o sentir
ou o mistério da vida acabará?).
As perguntas e as respostas não mais terão sentido
nem se saberá o que é ter morrido
porque o próprio saber não existirá
quando o que sempre foi
vier a ser o que será
e ninguém, nem quem me lê, perceberá
longínquos que ficamos no caminho.  
 

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).


 Ilustração: pistasdemimmesmo.blogspot.com 

O círculo



Na correnteza do tempo
Neste eterno fluir
Se modificam universos,
        mundos, mares e espaços.
Não há história ou passado
Nem quem saiba quantos passos
        a Natureza já deu.
Se há algo que, de fato,
algum dia já morreu
fora da ilusão dos homens.
Neste palco de mudanças
nunca me sinto sozinho.
Povoado de esperanças
ignoro mil caminhos,
e, por mais livre, estou
preso na teia das circunstâncias.
Se a vida desfaz laços
outros laços se compõem
como se pulasse apenas
para as outras instâncias.
E esta inconstância do mundo
mal se grava na memória
       que, esquecida,
vislumbra por vago tempo,
perplexa,
o doce mistério da vida.  

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).
Ilustração: http://3.bp.blogspot.com/-YRAQ  x8WVLU/UOooUGxU0aI/AAAAAAAACMo/4YznU6Am48c/s1600/537764_458029954244202_627765412_n.jpg

Poema da Hora Final




Que o dia da minha morte seja
Assim como um concerto de Listz:
Simples, belo, doce e inesperado
E que, como a música, me faça feliz.

Que venha após uma noite de amor
Que torne, tudo em volta, lindo, eterno
Para que a vida que, em mim, se completa
Atinja o apogeu da forma que não vivi.

Sim. Que na minha morte eu seja feliz
Para que nada possa denunciar a temida
E que, em todos, tudo, haja tanta luz e vida
Que nem mesmo eu acreditarei que morri.

E quem me olhar sereno no sono definitivo
Há de julgar que se trata de ilusão
Que meu silencio, decerto, é brincadeira
Como se isto não tivesse sido minha vida inteira.

(Do livro A Alquimia da Vida, Editora Castanheira/Printer Laser, 1999).
Ilustração: http://liciafabio.com.br/wp-content/uploads/2012/02/Imagem-expo-carnaval-015.jpg

Motivo


Há a absoluta necessidade da emoção.
O senso de que o medo, a paixão e a morte
                                           são imprescindíveis.
No entanto, a vontade de estar
                                           além dos mortais
Me revolta contra os sentimentos
E o lapso, profundo e definitivo,
                                           do meu ser.
A carne, todavia, só tem desejos
E a importância da vida que se impõe
Me move, para fugir da morte,
                                                  a escrever versos.

(Do livro Imagens da Incerteza, Thesaurus, 1988). 
Ilustração: http://pixabay.com/static/uploads/photo/2012/08/01/23/19/reason-53565_640.jpg

Friday, January 25, 2013

Trecho do Auto da Sibila Cassandra



Gil Vicente

Digas tú, el marinero
que en las naves vivías
si la nave o la vela o la estrella
es tan bella.

Digas tú, el caballero
que las armas vestías,
si el caballo o las armas o la guerra
es tan bella.

Digas tú, el pastorcico
que el ganadico guardas,
si el ganado o los valles o la sierra
es tan bella.



Digas tu, ò marinheiro
em que navios vivias
se no navio ou na vela ou na estrela
és tão belo.

Digas tu, ò cavalheiro
quais as armas que vestias,
se no cavalo ou nas armas ou na guerra
és tão belo.

Digas tu, ò pastorzinho
que rebanhozinho  guardavas
se no gado ou nos vales ou nas montanhas
és tão belo.

José Gorostiza



PAUSAS II

José Gorostiza 

NO CANTA el grillo. Ritma
la música
de una estrella.

Mide
las pausas luminosas
con su reloj de arena.

Traza
sus órbitas de oro
en la desolación etérea.

La buena gente piensa
— sin embargo —
que canta una cajita
de música en la hierba.

Pausas II

NÃO CANTA o grilo. Ritma
a música
de uma estrela.

Mede
as pausas luminosas
com seu relógio de areia.

Traça
suas órbitas douradas
na desolação etérea.

O povo honesto pensa
- no entanto-
que uma caixa de música
toca na grama.

Ilustração: exquadris.wordpress.com

Monday, January 21, 2013

Ainda Ted Kooser



In January 

Ted Kooser

Only one cell in the frozen hive of night
is lit, or so it seems to us:
this Vietnamese café, with its oily light,
its odors whose colorful shapes are like flowers.
Laughter and talking, the tick of chopsticks.
Beyond the glass, the wintry city
creaks like an ancient wooden bridge.
A great wind rushes under all of us.
The bigger the window, the more it trembles.

Em janeiro

Somente uma luz celeste na congelada colméia da noite
está acesa, ou assim  nos parece:
este café vietnamita, com a sua luz oleosa,
com seus odores, cujas formas coloridas são como flores.
Rindo e conversando, o retinir de pauzinhos.
Além do vidro, o inverno da cidade
Range como uma velha ponte de madeira.
Um grande vento corre sob todos nós.
Quanto maior a janela, maior o tremor.

Ted Kooser



After Years

Ted Kooser

Today, from a distance, I saw you
walking away, and without a sound
the glittering face of a glacier
slid into the sea. An ancient oak
fell in the Cumberlands, holding only
a handful of leaves, and an old woman
scattering corn to her chickens looked up
for an instant. At the other side
of the galaxy, a star thirty-five times
the size of our own sun exploded
and vanished, leaving a small green spot
on the astronomer's retina
as he stood on the great open dome
of my heart with no one to tell.

Depois de anos

Hoje, à distância, eu vi você
já indo embora, e sem um som
um brilho no rosto de uma geleira
deslizando para o mar. Um velho carvalho
caiu nas terras dos empecilhos, segurando só
um punhado de folhas, e uma velha mulher
espalhando milho para suas galinhas olhando
por um instante. Do outro lado
da galáxia, uma estrela 35 vezes
o tamanho de nosso sol explodiu
e desapareceu, deixando um pequeno ponto verde
na retina do astrônomo
enquanto estava na grande cúpula aberta
do meu coração, sem ninguém para contar.

Ilustração: aquesonha.blogspot.com

Thursday, January 17, 2013

Ezra Pound



A Girl

Ezra Pound

The tree has entered my hands,
The sap has ascended my arms,
The tree has grown in my breast -
Downward,
The branches grow out of me, like arms.

Tree you are,
Moss you are,
You are violets with wind above them.
A child - so high - you are,
And all this is folly to the world.

Uma garota

A árvore entrou nas minhas mãos,
A seiva ascendeu aos meus braços,
A árvore cresceu no meu peito -
para baixo,
os galhos crescem para fora de mim, como os braços.

A árvore é você,
o musgo você é,
Você é as violetas com vento sobre elas.
Uma criança - tão alta - você é,
E tudo isto é loucura para o mundo.

Ilustração: dalastella.blogspot.com

Wednesday, January 16, 2013

Bukowski de volta


The Laughing Heart

Charles Bukowski

your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.

O coração rindo

Sua vida é a sua vida.
Não a deixe ser esmagada pela pegajosa submissão.
Fique esperto.
Há outros caminhos.
E existe luz em algum lugar.
Pode até não ser muita luz, mas,
ela vence a escuridão.
Fique esperto.
Os deuses lhe oferecerão oportunidades.
Não deixe de saber.
E as agarre.
E se você não pode vencer a morte, mas,
pode vencer a morte em vida, algumas vezes.
E quanto mais aprender a fazer isto,
maior será a luz.
Sua vida é a sua vida.
Saiba enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso,
os deuses esperam se deliciar
com você.

Ilustração: mensagem.etc.br

Dylan Thomas



Clown in the Moon

Dylan Thomas

My tears are like the quiet drift
Of petals from some magic rose;
And all my grief flows from the rift
Of unremembered skies and snows.

I think, that if I touched the earth,
It would crumble;
It is so sad and beautiful,
So tremulously like a dream.

O palhaço na lua

Minhas lágrimas são como o esboço tranqüilo
Das pétalas de alguma rosa mágica;
E toda minha tristeza flui de uma fenda
De esquecidos céus e neves.

Eu pensei que se eu tocasse a terra,
Ela iria cair;
É tão triste e bonito,
Assim tremeluzente como um sonho.

Ilustração: tuareg-aprendizdepoeta.blogspot.com

Tuesday, January 15, 2013

Lino Gutierréz Alea

Sinceridad
Lino Gutiérrez Alea
Mírame sin temor, así, de frente;
irradie en tus adentros tu mirada,
que he de ser a tus ojos, mi adorada,
como un lago tranquilo y transparente.

Mis pasiones, domadas rudamente,
mi pensamiento, mi ilusión dorada,
flora te brindarán, rica y variada,
del alma en lo profundo y de la mente.

Que el resplandor de tu mirada alumbre
un remanso apacible: mi optimismo,
y un escollo fatal: mi pesadumbre.

Y nada en mi interior, nada en mí mismo
haya que al escrutarme no vislumbre:
ni un bajo, ni un recodo, ni un abismo.

Sinceridade

Olha-me sem temor, assim, de frente;
irradia em teu interior tua mirada,
que hei de ser para teus olhos, minha adorada,
como um lago tranqüilo e transparente.

Minhas paixões domadas rudemente,
meus pensamentos, minha ilusão dourada,
flora te brindaram, tão rica e variada,
da alma mais profunda e da mente.

Que o brilho de teu olhar venha iluminar
um remanso tranquilo: meu otimismo,
e um obstáculo fatal: o meu pesar.

E nada em meu interior, nada em mim mesmo
haja que ao escrutar-me não possa vislumbrar:
nem um desnível, ou recanto, nem um abismo.


Ilustração: lovewgame.blogspot.com

Lina Zerón


Un gran país

Lina Zerón

Vivo en un país tan grande que todo queda lejos:
la educación,
la comida,
la vivienda.
Tan extenso es mi país
que la justicia no alcanza para todos.

Um grande país

Vivo num país tão grande
que tudo fica distante:
a educação,
a comida,
a moradia.
Tão extenso é meu país
Que a justiça não alcança a todos.

Ilustração: http://camalees.wordpress.com/2011/01/05/adeus-malangatana/

Monday, January 14, 2013

Lourdes Gil



Sucede que a veces

Lourdes Gil

Sucede que a veces
pienso en ti
y entonces
como un huesecillo de cereza
atascado vivo e imposible
siento cuanto me quemas
la garganta

Sucede que às vezes

Sucede que às vezes
penso em ti
e assim
como um caroço de cereja
preso vivo e impossível
sinto o quanto me queimas
a garganta

Lucero Alanís Gurrola



De lirio y água

Lucero Alanís de Gurrola

Ella siembra bajo la superficie
de lagos y de ríos
su imagen efímera
canto que espera música
una voz
un suspiro apenas.

En las raíces de lirio y agua
se ciñen sus anhelos
con la transparencia del color
al diluir en sonidos
la imagen que se ahoga.

De lírio e água

Ela plantou sob a superfície
de lagos e rios
sua imagem efêmera
canção que espera de música
uma voz
um suspiro apenas.

Nas raízes de lírio e água
se prendem seus desejos
com a transparência da cor
a  diluir em sons
a imagem que se afoga. 

Ilustração: http://pixabay.com/pt/l%C3%ADrio-d---%C3%A1gua-l%C3%ADrio-ta%C3%A7a-flor-64126/

Margarita de Hickey y Pellizzoni


Al oido

Margarita de Hickey y Pellizzoni

Déjame penetrar por este oído,
camino de mi bien el más derecho,
y, en el rincón más hondo de tu pecho,
deja que labre mi amoroso nido.

Feliz eternamente y escondido,
viviré de ocuparlo, y satisfecho...
¡De tantos mundos como Dios ha hecho,
este espacio no más a Dios le pido!

Ya no codicio fama dilatada,
ni el aplauso que sigue a la victoria,
ni la gloria de tantos codiciada...

Quiero cifrar mi fama en tu memoria;
quiero encontrar mi aplauso en tu mirada;
y en tus brazos de amor toda mi gloria.

Ao ouvido

Deixa-me penetrar por este ouvido,
caminho do meu bem mais certo,
e, no canto mais profundo de teu peito,
deixa  meu ninho de amor ser construído.

Feliz eternamente e escondido
viverei de ocupá-lo, e satisfeito ...
De tantos mundos, como Deus há feito,
este espaço não é mais a Deus pedido!

Já não cobiço a fama perseguida
nem os aplausos depois da vitória,
nem a glória por tantos almejada ...

Quero é gravar minha fama em tua memória;
quero meu aplauso no teu olhar, na tua mirada;
e nos teus braços amorosos a minha glória.


Ilustração: coracao-na-tua-mao.blogspot.com

Lya Ayala



El mar

Lya Ayala

Su voz recorre la orilla
Inunda el rostro del sol
Como una ola de hojas
Los pescadores bordean la brisa,
Y en sus ojos el firmamento
Se despliega sobre la arena
Cansado y hambriento de horas,
El muelle aprisiona la tarde
En un reflejo sereno y lejano,
Las aves se posan graves en las rocas
Pensativas y soñadoras…

O mar


Sua voz percorre a praia
inunda o rosto do sol
como uma onda de folhas.
Os pescadores deslizam  na brisa, 
E nos seus olhos o firmamento
se desmancha na areia 
cansado e faminto de horas. 
A primavera aprisiona a tarde
num reflexo sereno e distante, 
os pássaros pousam graves nas rochas
pensativos e sonhadores ...

Ilustração:  refletindoembuscadaverdade.blogspot.com