Saturday, May 18, 2013

Mario Benedetti


Amor de tarde 

Mario Benedetti

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.

 

Amor de fim de tarde

É uma pena que não estejas comigo

quando olho para o relógio e já são quatro horas

e acabo a planilha e penso dez minutos

e estiro as pernas como em todas as tardes

e faço assim com os ombros para aliviar as costas

e dobro os dedos e conto mentiras.  

 

É uma pena que não estejas comigo

quando olho para o relógio e já são cinco horas

e sou apenas uma máquina que calcula juros

ou duas mãos que dançam sobre quarenta teclas

ou um ouvido que escuta a atento e as cascas de telefone

ou um tipo que faz números e deles extrai verdades.


É uma pena que não estejas comigo

quando olho para o relógio e já são seis horas.

Bem que poderias chegar de surpresa

e dizer-me: "Que tal?" e ficaríamos

eu com a mancha vermelha de teus lábios

tu com o risco azul do minha fuligem de carbono.

Ilustração: Wallpapers

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