Sunday, June 03, 2012

Quase poemas cotidianos


Mustafá

Me dizem sempre para não sair de férias
Nem faltar ao serviço.
E me ensinam: “Quem vai ao ar, perde o lugar”.
E ao serviço não posso, não devo faltar- é uma questão
De sobrevivência.

E ter um amor? Também me dizem
Que é preciso ter carinho e paciência.
“È uma flor”-me dizem- “que é preciso cultivar”.
Não seria algo assim tão difícil
Se não fosse, como sou, tão preguiçoso.
Há dias em que é um troço doloroso
A simples tarefa, da cama, me levantar.

E foi num dia assim
(depois de ter deixado o meu amor sem notícias)
Que recebi o recado que havia me trocado
Por um gato amarelo
Que vive também dormindo e a ronronar.

Bem, até podem dizer que não é tão mal-
Ou insinuar que é melhor um gato que um cachorro.
Por preguiça de polemizar até corro,
Mas, me digam, se não é de arrasar
Dividir a cama
Com um gato que chamam de Mustafá?
E- ainda me dizem-
Que, apesar de não ser pato,
A conta ainda vou ter que pagar!

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