Tuesday, October 23, 2007

AINDA BORGES

AUSENCIA

Jorge Luis Borges

Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos y sin sentido,
iguales a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.
Ausência

Haverei de levantar a vasta vida
Que ainda agora é teu espelho:
Cada manhã haverei de reconstruí-la.
Desde que te fostes
Quantos lugares se hão tornado vão
E sem sentido, iguais
As luzes do dia.
Tardes que foram nicho de tua imagem,
Musicas em que sempre me aguardavas,
Palavras daqueles tempos
Eu terei que quebrá-las com as minhas mãos.
Em que profundeza esconderei minha alma
Para que não veja tua ausência,
Que como um sol terrível, sem ocaso,
Brilha definitiva e desapiedada?
Tua ausência me rodeia
Como a corda à garganta
Como o mar ao que se derrete.

1 comment:

Marcia Maria said...

Sílvio: - A arte do verso é a manifestação mais perfeita da Poesia em si. Ela é a coroa de todas as artes. Aproxima-se da Música pelo ritmo e das demais artes pela delicadeza com que exprime todos os sentimentos do ideal.
Adorei!!!
Beijinhos...