ESPINAS
Sara Búho
El amor no es ciego.
El amor ve todo,
incluso lo que no existe.
ESPINHOS
O amor não é cego.
O amor vê tudo,
inclusive o que não existe.
ESPINAS
Sara Búho
El amor no es ciego.
El amor ve todo,
incluso lo que no existe.
ESPINHOS
O amor não é cego.
O amor vê tudo,
inclusive o que não existe.
Em vinho a vida vive.
Em vinho a vida se
esgota,
Mas, viver a vida sem
vinho
É navegar sem ter rota.
É como o amor sem teus
beijos,
Dias assim sem te ver.
Viver a vida sem vinho
É viver que nem se nota
É como dormir sozinho
Sem prazer nenhum ou sonho.
É como o tempo tristonho
Com saudades de você!
Ilustração: Bom Gourmet.
FUERTE, CRISTALINA
Sara Búho
Puedo respirar
debajo del miedo,
ahora que el miedo
no ocupa todo.
Me veo, amor.
Fuerte, cristalina, capaz.
He dejado de existir
a través de mi sombra,
he dejado que la luz
me atraviese.
Cuento los logros,
me veo en ellos
y los acaricio como
símbolo de todo el amor
que me he negado.
No soy tristeza
aunque a
veces esté triste.
No soy soledad,
tenías razón,
no eras tú mi soledad.
FORTE, CRISTALINA
Posso respirar
debaixo do medo,
agora que o medo
não ocupa tudo.
Me vejo amor.
Forte, cristalina, capaz.
Deixei de existir
através da minha sombra,
deixei que a luz
me atravesse.
Conto as conquistas,
me vejo nelas
e as os acaricio como
símbolo de todo amor
que me foi negado.
Não sou tristeza
Ainda que,
às vezes, fique triste.
Não sou a solidão,
tinhas razão,
não eras tu minha solidão.
Ilustração: Jornal da USP.
PRAYER FOR 2018
Cecilia Woloch
Surely there was a river,
once, but there is no river here. Only
a sound of drowning in the dark between the trees. The sound of wet, and only
that. Surely there was a country that I called my country, once. Before the
thief who would be king made other countries of us all. Before the bright
screens everywhere in which another country lives. But
what is it, anyway, to live-to breathe, to act, to love, to eat? Surely there was a real earth, wild and green, here,
blossoming. Land of milk and honey, once. Land of wind-swept plains and blood,
then of shackles and of iron. And then the black smoke of its cities and the
laying down of laws. Under which some flourished-if you call that flourishing-and
from which others would have fled had there been anywhere to flee. My country,
which is cruel, and which is beautiful and lost. Surely, there were notes that
made a song, a pledge of birds. And not a child in any cage, no man or woman in
a ditch. Surely, what we meant was to anoint some other god. One made of wind
and starlight, pulsing, heart that matched the human heart. Surely that god
watches us, now, one eye in the river, one eye where the river was.
PRECE PARA 2018
Certamente havia um rio,
uma vez, mas não há mais rio aqui. Somente um som de afogamento na escuridão
entre as árvores. O som do molhado, e só isto. Certamente havia um país que eu
chamei de meu país, uma vez. Antes que o ladrão que seria rei fizesse de todos
nós outros países. Antes das telas brilhantes em todos os lugares onde vive
outro país. Mas o que é, afinal, viver - respirar, agir, amar, comer?
Certamente havia uma terra real, selvagem e verde, aqui, florescendo. Terra de
leite e mel, onze. Terra de planícies varridas pelo vento e de sangue, depois
de algemas e ferro. E depois a fumaça negra de suas cidades e o estabelecimento
de leis. Sob o qual alguns floresceram- se é que podemos chamar isto de
florescimento - e do qual outros teriam fugido se houvesse algum lugar para
onde fugir. Meu país, que é cruel, lindo e perdido. Certamente, havia notas que
fizeram uma canção, um sinal de pássaros. E nem uma criança numa jaula, nem um
homem ou uma mulher numa vala. Certamente, o que queríamos fazer era ungir
algum outro deus. Um coração feito de vento e luz das estrelas, pulsante, que
combinava com o coração humano. Certamente que Deus nos observa, agora, um olho
no rio, um olho onde estava o rio.
Ilustração: Blog do Pedlowsky.
Ainda que o calor seja
enorme
O belo líquido que
escorre, na taça,
Acorda o prazer que, em
mim, dorme
E põe, no domingo, cor e
graça.
Na mesa, o queijo de
Canastra,
A carne, a água, o vinho,
o pão,
Este mínimo de ração, que
basta,
Para se ser feliz ouvindo
uma canção.
A boa amizade, os gestos
de carinho,
Combinam com o verde de
La Mancha
Que até me sinto um Dom
Quixotezinho
E ouso ver, no Lito, um
Sancho Pança!
HOMBRE DE LUNES CON
SECRETO
Luis García Montero
ESTE lunes de abril
templado y diligente,
muy de mañana, sin haber
dormido.
Por la cafetería cruza el
buitre
de los horarios
laborales,
entre tazas, tostadas y
periódicos
se discuten las últimas
noticias,
y el hombre del secreto
se sumerge en el túnel de
una nueva semana.
Deshoja el bienestar de
su café,
sonríe a quien le mira,
se consuela,
porque tiene un secreto.
Los cuerpos juveniles son
presente,
pero nos llega impuesta
del pasado
la inocencia arbitraria
de sus conversaciones.
El hombre del secreto lo
comprende
camino del trabajo,
cuando los estudiantes
llenan el autobús
y un tumulto de cuerpos
con la cara lavada
se apodera del lunes.
HOMEM DE SEGUNDA-FEIRA
COM SEGREDO
NESTA temperada e
diligente segunda-feira de abril,
muito de manhã, sem ter
dormido.
Na cafeteria cruza o
abutre
dos horários de trabalho,
entre xícaras, torradas e
jornais
se discutem as últimas
notícias,
e o homem do segredo
mergulha no túnel de uma
nova semana.
Desfolha o bem-estar do
seu café,
sorri para quem o olha, se
consola,
porque tem um segredo.
Os corpos juvenis estão
presentes,
porém nos vem imposto do
passado
a inocência arbitrária de
suas conversas.
O homem do segredo
compreende
o caminho do trabalho,
quando os estudantes
enchem o ônibus
e um tumulto de corpos
com caras lavadas
assume segunda-feira.
Ilustração: Planalto Transportes.
Não me preocupo com dinheiro
(como se preocupar com o que
não se tem?).
Mas, graças a Deus, sou brasileiro,
uma raça estranha que se contenta
com o que prometem que vem.
Sou otimista:
acredito no futuro
e, por tal razão, vivo a vida inteira
duro,
cheio de fé, vendo futebol, sambando
e, queira, ou não, a vida vai passando,
e só ficando pior,
até que a morte
nos faça feliz eternamente
por não sofrer mais,
diariamente.
E esta é, no fim,
a salvação possível
diante de uma realidade terrível.
ESPINAS
Sara Búho
El amor no es ciego.
El amor ve todo,
incluso lo que no existe.
ESPINHOS
O amor não é cego.
O amor vê tudo,
inclusive o que não existe.
LATA
Gonzálo Millan
Ya no te bastan mis ojos
para corroborar tu belleza.
Buscas en las calles
ajenos espejos, otros ojos,
la cabeza de un clavo
es una luna diminuta.
Contemplas una lata
de sardinas con agua de lluvia.
LATA
Já não te bastam meus olhos
para corroborar tua beleza.
Buscas nas ruas
espelhos alheios, outros olhos,
a cabeça de um prego
é uma lua diminuta.
Contemplas uma lata
de sardinha com água de chuva.
Ilustração: iStock.
Eu não te perdoo
Por me amares mais
Do que te posso amar
Nem me pedires mais
Do que eu posso dar.
Nem por meus silêncios
Ou falta de desculpas
Não posso me perdoar
Por minhas culpas
Nem por ser assim
Tão múltiplo e incoerente
Que sigo em frente
Sem nenhuma ilusão
Que não a deste amor
Que não perdoa
Nem quer perdoar
E que contra toda a razão
Continua a amar
Quando nem amar consegue
E deixa tudo no ar...
Enquanto a vida segue
Como um mero exercício de respirar!
Ilustração: iStock.
Eu queria te dizer
tantas coisas lindas.
Ser mais poeta
que os maiores poetas
para dizer que ninguém,
além de mim,
há de te amar tanto assim.
Quando olhei, porém,
nos teus belos olhos
fiquei sem palavras
e só consegui chorar
o tanto que te amava.
Ilustração: Stockphoto.
MY EASTER DOVE
Henrietta Cordelia Ray
There came a dove, an Easter dove,
When morning stars grew dim;
It fluttered round my lattice bars,
To chant
a matin hymn.
It brought a lily in its beak,
Aglow with dewy sheen;
I caught the strain, the incense breathed,
And
uttered praise between.
It brought a shrine of holy thoughts
To
calm my soul that day;
I caught the meaning of the note,
Why
did it fly away?
Come peaceful dove, sweet Easter dove!
Above earth’s storm and strife,
Sing of the joy of Easter-tide,
Of
light and hope and life.
MINHA POMBA DA PÁSCOA
Lá veio uma pomba, uma pomba da Páscoa,
Quando as estrelas da
manhã escureceram;
flutuando em volta das minhas barras de treliça,
Para cantar um hino
matinal.
Trouxe um lírio no bico,
Brilhante com um orvalhado
brilho;
Eu peguei a tensão, o incenso respirou,
E pronunciou elogios entre
eles.
Trouxe um santuário de pensamentos sagrados
Para acalmar minha alma
naquele dia;
Eu entendi o significado da nota,
Por que ele voou para
longe?
Venha pacífica pomba, doce pomba da Páscoa!
Acima da tempestade e do conflito
da terra,
Cante a alegria da maré pascal,
De luz, esperança e vida.
Ilustração: Tia Paula.
[«No mires hacia atrás: ya nada queda…»]
Antonio Carvajal
No mires hacia atrás: ya nada
queda:
la casa, el sitio, la ciudad, el soto,
escombro, hueco, ripio, humo remoto
o acaso turbia y leve polvareda.
Mira adelante, aunque te
retroceda
el ánimo: el futuro no está roto:
si oscuro, intacto; fértil, porque ignoto.
Quiera tu voluntad, tu ánimo pueda.
Pero si te has vendido a las
pasadas
sombras; si esclavitud tasó tu precio
en dos o tres monedas sin sonido,
teme a la libertad, pues no eres
recio;
teme a tus fuerzas, pues están gastadas;
teme al futuro, pues será tu olvido.
["Não olhe para trás: já nada
resta..."]
Não olhe para trás: já nada resta:
a casa, o lugar, a cidade, o mato,
escombros, buraco, ripa, fumaça remota
ou talvez nublado e com poeira leve.
Olha em frente, ainda que retroceda
o ânimo: o futuro não está perdido:
se escuro, intacto; fértil, porque ignorado.
Que sua vontade, seu espírito possa.
Porém se te hás vendido aos passados
tons; se a escravidão taxou teu preço
sem som, em duas ou três moedas,
teme a liberdade, pois não és forte;
teme as tsua forças, pois estão gastas;
teme o futuro que será teu esquecimento.
Ilustração: Wallpapers Cristãos.